Até 2050, a metrópole financeira da Alemanha pretende suprir toda a sua demanda com fontes energéticas verdes.
Lançado na semana passada, o Plano de Proteção Climática 2050 define medidas para que a Alemanha possa cumprir seus compromissos no Acordo de Paris, reduzindo as emissões de gases-estufa entre 80% e 65% e suprindo quase toda a sua demanda energética com fontes renováveis até meados do século.
Como as cidades são as maiores responsáveis pelas emissões de carbono, muitas estão estabelecendo os seus próprios objetivos. Frankfurt é uma delas. A cidade alemã é conhecida por seus bancos, arranha-céus, bolsa de valores e seu importante aeroporto internacional – mas é difícil imaginar a capital financeira da Alemanha como um centro de ação ambiental.
No entanto, a cidade tem trabalhado para reduzir a sua pegada de carbono. Muitos de seus edifícios já atendem aos padrões de alta eficiência energética, e cidadãos, escolas e empresas estão sendo incentivados a economizar energia.
Em 2013, Frankfurt consolidou a sua visão de baixo carbono, com o Plano Diretor para 100% de Proteção Climática, desenvolvido com a participação de cidadãos e instituições do setor de energia. O documento define o projeto da cidade de reduzir seu consumo energético pela metade até 2050 e estabelece medidas para que o abastecimento venha inteiramente de fontes renováveis de energia.
"Os cálculos mostram que isso é possível", afirma Paul Fay, da Agência Municipal de Energia de Frankfurt. Segundo o plano, metade de sua demanda de energia renovável deve ser produzida pela própria cidade, principalmente por meio de placas solares na coberta dos edifícios e pelo aproveitamento de resíduos. "A outra metade deverá ser importada do entorno da cidade."
Fay diz que Frankfurt deve atingir as suas metas com um pacote de pequenas medidas que funcionam em conjunto. "Nós assessoramos pequenas e grandes empresas, proprietários, inquilinos e instituições. Mostramos como eles podem economizar energia, dinheiro e CO2, e onde o uso de fontes renováveis é importante."
Ao longo dos anos, a agência acumulou uma ampla expertise. Um portal de internet, um banco de dados e consultores ajudam a fazer com que campanhas e iniciativas saiam do papel. E a cidade subvenciona a iluminação por LED e aparelhos energeticamente eficientes para residências e empresas.
As escolas são incentivadas a que professores e alunos participem dos esforços de eficiência energética, recebendo de volta metade do dinheiro que poupam em energia. No ano passado, cem escolas economizaram quase meio milhão de euros dessa forma. Parte dessa verba foi destinada a viagens escolares, de forma que as crianças são recompensadas por fazer a sua parte, ajudando a cidade a se tornar verde.
Pioneirismo em edifícios passivos
Na eficiência energética de edifícios é onde Frankfurt realmente se destaca como pioneira. Graças ao apoio financeiro da prefeitura, por volta de 2% de suas construções atendem a padrões rígidos de "edificações passivas", o que reduz drasticamente o consumo de energia de um prédio.
A associação municipal de projetos de habitação ABG Frankfurt Holding passou a adotar o padrão de edificação passiva para alguns edifícios e projetos de reforma há 16 anos, segundo o diretor da associação Frank Junker.
"Temos de agir para proteger o clima e reduzir os custos energéticos para os inquilinos", afirmou Junker. Mais de 2,5 mil das 51 mil habitações da ABG já atendem ao padrão de edificação passiva, e a associação pretende elevar essa cifra para seis mil por volta de 2021.
Desde 2007, escolas, jardins de infância e outros edifícios públicos também têm sido construídos e reformados segundo os padrões de edificações passivas, e a cidade está erguendo atualmente o primeiro "hospital passivo" do mundo.
Energia verde e eco living
A empresa de energia elétrica regional Mainova também exerce um importante papel na transição energética da cidade. Ela abastece cerca de 10% das edificações de Frankfurt com calefação gerada de forma eficiente, ou seja, o aquecimento é um subproduto da geração de eletricidade – em grande parte a partir do biogás, madeira e resíduos.
A Mainova fornece iluminação de rua eficiente e estações de recarga para veículos elétricos, e está cada vez mais focada na energia solar. A empresa quer explorar o potencial dos espaços de cobertura não utilizados em Frankfurt com produtos customizados para proprietários, estabelecimentos comerciais e inquilinos.
E a economia de energia vai além do próprio setor energético. O Livro de Economia de Energia de Frankfurt é um guia que oferece aos cidadãos dicas de economia para outras áreas da vida também, recomendando, por exemplo, comprar produtos orgânicos locais sempre que possível.
Aeroporto como entrave
O guia também aborda o transporte, encorajando os cidadãos a deixar seus carros em casa e andar de bicicleta ou usar o transporte público – e a evitar viagens aéreas sempre que possível.
No entanto, mesmo que os cidadãos da cidade escolham não voar nas suas próximas férias de verão, as viagens aéreas representam um grande ponto de discordância nas ousadas ambições climáticas de Frankfurt. O aeroporto internacional da cidade é responsável pela emissão de quatro vezes mais gases-estufa do que todo o resto da metrópole financeira – e não se vislumbram reduções.
"As companhias aéreas, e nós como operadores do aeroporto, estamos contando com o crescimento", afirma Jörg Machacek, assessor de imprensa da operadora Fraport AG Frankfurt.
Ele diz não ser a favor da ideia de imprimir advertências climáticas sobre as passagens aéreas, semelhante às impressas nos maços de cigarro contra os perigos do tabagismo. Em relação à proteção climática, a política Rosmarie Heilig, do Partido Verde, diz que o aeroporto de Frankfurt é o "maior dilema".
"Isso nos persegue", afirma a política. "Todo o resto é apenas fachada." Heilig gostaria de ver uma série de medidas de alcance postas em prática para reduzir o tráfego aéreo de Frankfurt. Ela admite, no entanto, que há pouca vontade política.
O plano nacional para reduzir as emissões de carbono na Alemanha está sob fortes críticas de grupos ambientalistas, que dizem que as concessões para apaziguar a indústria e o Ministério da Economia fizeram com que o projeto se tornasse completamente inadequado para cumprir as suas metas.
Também em Frankfurt ainda é preciso esperar para ver se o abismo entre a ambição e a ação pode ser superado.